17 dezembro 2005

O top ten do meu carro em 2005

Faz alguns anos que observei que o meu lugar favorito de ouvir música era o carro. Imaginei que esse seria um desvio de comportamento pessoal, mas descobri que isso acontecia com muita gente. O meu carro que carrega uma família com gostos musicais díspares , passou a ter um top ten particular, resultado de um mmc dos gostos dos ocupantes. Francisco meu filho mais moço de quatro anos´, que é o maior frequentador do carro tem um papel decisivo nop top ten desse ano.. Vamos lá :

1- Amassokoul / Tinariwen
2- Out of Exile / Audioslave
3- Chaos and Creation... /Paul McCartney
4- Matador / Mickey D
5- Tournée/ Paolo Conte
6- Illinoise - Sufjan Stevens
7- Joaquin Sabina - 19 dias e 500 noches
8- Jorge Ben - Tábua de Esmeralda
9- Amadou & Mariam -Dimanche à Bamako
10- Franz Ferdinand - os dois discos
11- K.T. Tunstall - Eye to the Telescope

16 dezembro 2005

Porque amo o meu MP3 (1) - O condicionante linguístico


O ano era 1985, a fita cassete se chamava "Viaggi Organizzati", o artista era Lucio Dalla. Meus pais me trouxeram de uma viagem à Itália, como costumavam trazer música de todos os muitos cantos do planeta para onde viajavam.

O disco era espetacular. Não espetacular por diferente, exótico e curioso, como eram tantos discos de tantos lugares que meus pais tinham me trazido. Era um disco exemplar de moderna música "pop", especialmente pelo uso desasombrado, inteligente e particular que a produção fazia das novas folias digitais que nos fascinavam naquela altura; sintetizadores , baterias eletrônicas e samplers. Essa estética moderna sem deslumbramentos servia a canções de melodias genialmente italianas e letras que revelavam novas qualidades a cada nova ida ao dicionário (a canção como senha para descobrir um novo idioma é uma dos grandes prazeres que ela nos oferece).

Descobri que Lucio Dalla já era meu conhecido sem eu saber. Era ele o autor do super-hit "Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones" versionado pelos Incríveis. Ainda no fim dos anos 80 , a música de abertura do "Viaggi Organizzati" - "Tutta la Vita" , viraria um novo hit para Dalla no Brasil numa tenebrosa versão entitulada "Tô -P- da vida" da banda-armação Dominó, que não tinha a mais remota semelhança de sentido com a canção original.

Lucio Dalla já era aquela altura "um grande" da música italiana, tinha lá a estatura que um Caetano ou um Chico Buarque tinham aqui. A Itália não é propriamente um país obscuro do terceiro mundo: Como então, me perguntava, um cara como eu que consome toda informação musical ao seu alcance, precisou da intervenção da providência divina, através de uma recomendação aos meus pais, para descobrir um artista desse calibre ?

A resposta era óbvia , nós vivíamos (vivemos) numa dieta musical imposta por corporações multinacionais anglo-americanas, sendo assim toda a música popular que não é cantada em inglês tem enorme dificuldade de achar um público para além da sua língua/ cultura/pátria de origem. Claro que essa afirmação simplista, com ares de teoria conspiratória, esconde muitas verdades históricas sobre a formação do mercado mundial da música , sobre os processos econômicos e os mercados internacionais. Mas eu estava precisando de um bode expiatório e as corporações multinacionais estão aí é para isso mesmo.

A descoberta mais importante era que havia um mundo de música pop interessante a ser explorado, que não iria chegar a mim pelos meios normais pelos quais eu costumava tomar conhecimento de música. Essa consciência sobre as limitações da dieta musical que me era ofertada pelos veículos de divulgação serviu mais para colecionar nomes do que para ouvir música. A maioria dos artistas a quem se fazia referência não tinha discos disponíveis nas lojas. Portanto , fora um ou outro que escapava milagrosamente ao cerco da anglofonia, meus ouvidos continuavam reféns dos vagares da indústria do disco e suas vilanescas corporações cada vez mais multinacionalmente monoglotas.

Tudo mudou com os Napsters/Kazaas/E-mules da vida. Numa virada de página do grande livro por escrever da Internet, toda a música popular do mundo estava à disposição dos meus dedos e ouvidos. As recomendações, referências e leituras do passado foram rapidamente transformando-se em música para ser ouvida. Essa infinitude de possibilidades leva inicialmente a uma certa estupefação, mas com o passar dos meses vão ser revelando artistas e discos que abrem janelas para novas culturas.

O espanhol Joaquin Sabina , o italiano Paolo Conte a banda francesa Mickey 3D , são artistas que enriqueceram recentemente o meu universo musical, graças a disponibilidade da sua música na Internet. Como eles outras tantos estão aí para ser descobertos.

10 dezembro 2005

o melhor disco de rock do ano

Numa dessas navegações associativas sem destino que realizo de manhã , à partir dos emails que recebo diariamente (NYTimes/The Independent/AJCulture/blueBus/BBC/nominimo) caí na lista de indicados para o Grammy que foi divulgada hoje.

Gosto do Grammy e não gosto do Grammy.

Gosto porque quando o assisti de corpo presente pude sentir um clima bacana. Aquela coisa de ficar na fila do cachorro-quente atrás do Jeff Beck, trocar figurinhas com Roy Haynes esperando um taxi.. ou seja , a interação do mundo da música americana tudoaomesmotempoagora,é uma experiência super-bacana .

Não gosto do Grammy quando ele quer pretender ser produto de exportação. Acho, desde o marco zero, o Grammy Latino uma ridícula manifestção de subserviência cultural e o espaço que a grande imprensa brazuca dedica aos brasileiros indicados ao prêmio americano um triste sinal de colonialismo mental .

Digo isso tudo para justificar o tempo que perdi lendo os indicados do Grammy e constatando o absurdo que é ausência dos dois melhores de disco de rock americanos do ano: "Mesmerize/Hipnotize" do System of a Down e o "Out of Exile " do Audioslave.

Ambos estão apenas indicados em categorias menores que garantem a ausência deles da transmissão de TV. Uma óbvia e milimetrada medida para evitar os discursos anti-guerra do Iraque que ambas as bandas iriam promover se o espaço televisivo estivesse disponível.

O fiapo de credibilidade que o Grammy ainda poderia ter, foi definitivamente jogado no lixo.

07 dezembro 2005

Big & Rich

O melhor disco de rock'n'roll do ano é " Comin' to your city" do duo country Big & Rich.
Explico:
Rock'n'roll é uma coisa diferente de rock. O duo eletrõnico alemão Kraftwerk está inscrito no universo do rock, nada menos rock'n'roll do que os robôs de Dusserldorf.
Rock'n'roll é simples , despretencioso e divertido, como Chuck Berry , Little Richard e James Brown, música de festa. Como já disseram os Beach Boys, com enorme poder de síntese, FUN,FUN,FUN.. Nessa tradição de música para sacudir o esqueleto, Grande e Rico estão bem na fita. daunloude e tire suas próprias conclusões.

01 dezembro 2005

dieta -1


Rápidamnete um resumo do que anda frequentando os meus ouvidos.

Sufjan Stevens - Illinoise - Esse já está quase na boca do povo.
Mais um cantor/compositor sensível , esse meio de década 00 está com um incrível sabor de meados de 70. Sufjan se destaca nesse bloco de compositores que cantam baixinho e tocam violão pelas orquestrações originais e o uso intensivo de cordas, metais e coros. Há algo de Brian Wilson no destemor em que Stevens se lança no emprego de todas as cores musicais que dispõe. Viciante.


Jefferson Airplane = Surrealistic Pillow - Os vagares do negócio muitas vezes nos afastam de descobertas preciosas. O Jefferson Airplane não desfruta de um grande prestígio internacional nesse momento da história , são raras as citações a banda, é raro ouvir sua música mesmo os sucessos.

Em parte esse esquecimento se deve a eles próprios, que esculhambaram o legado de uma grande banda numa segunda encarnação (Jefferson Starship) que pegou uma rota rumo a breguice e nunca mais voltou.

Mais que a própria biografia , o que faz que a boa fase "Airplane" permaneça obscura é o fato dos primeiros ( e melhores ) discos da banda terem sido gravados para uma gravadora que fechou e estarem perdidos em algum rolo judicial interminável.

É raríssimo encontrar os discos e mesmo as coletâneas do Jefferson Airplane são figurinhas difíceis. É uma injustiça que a santa Internet repara.

Conhecia os hits do Airplane"White Rabbit", "Somebody to Love" , tive ou ainda tenho uma coletânea e me dava por satisfeito. Alguns anos atrás , sabe-se lá por indicação de quem, comprei o disco "Oar" um solo do Alexander "Skip" Spence , primeiro baterista da banda , clássico da psicodelia bad trip . Me apaixonei pelo disco e essa paixão me deu a curiosidade de ouvir os discos originais do Airplane, onde ele tocava.

Baixei os quatro primeiros - Surrealistic Pillow (1967) ,Crown of Creation (1968), Volunteers (1969) e Blows against the empire (1970) e descobri uma banda mais próxima do Buffalo Springfield do que do Grateful Dead, só para falar da cena flowe power, Califórnia, final dos sessenta. É psicodélico com certeza, mas não daquele jeito doidão bicho-grilo do Dead. De alguma forma o Airplane é a banda que mais encarnou o espírito contestador revolucionário de 68 nos Estados Unidos.

Portanto usem os seus Kazaas,E-donkeys e quetais .

P.S. - Tenho que fazer justiça e me lembrar que o Maurício Valladares sempre me recomendou o Airplane..

24 novembro 2005

olha nóis no weblog, pipou!

Pedro Dória , jovem companheiro de velhas noitadas, dá uma força pros amigos!

Além de amigo, ele é bom pacas... até os alemão gosta dele.. incrívi..


http://nominimo.ibest.com.br/notitia/servlet/newstorm.notitia.presentation.NavigationServlet?publicationCode=1&pageCode=33&date=currentDate&contentType=html

surtos de inteligência no rockbrazuca

O rock brasileiro virou uma terra arrasada de cpmsecharliesbrowns e quetais??
A nossa "juventude" é uma corja de descerebrados??


Los Hermanos são o unico traço de inteligência?


Stop ! Calminha!
Um instante !

Seu problema é simples.. você foi programado para acreditar que as coisas boas e bacanas serão em algum momento apresentadas a você pela mídia tradicional. Uma hora a banda legal vai tocar no rádio ou aparecer na tevê ,em algum momento você vai tropeçar sem querer com a grande novidade artística.

Infelizmente o mundo nesse início de século é um pouco mais complicado do que isso... e Inteligência só encontra quem procura !

Os dois exemplos abaixo vem de lugares ( Ceará e Santa Catarina) de onde os afoitos não imaginariam que poderia haver boas bandas de rock.. no entanto elas existem faz tempo, fazendo ótimos trabalhos sem você tenha ouvido falar delas.

De Santa Catarina o excelente Tijuquera , poesia da melhor qualidade e uma sensibilidade muito particular dos moradores da terra do surf-brasilis ..

http://www.tijuquera.com.br/

Do Ceará, que eu amo, o Cidadão Instigado, liderado pelo guitarrista fernando Catatau, que estão na beira de coisas grandes...

http://www.slagrecords.com/site/cidadaoinstigado.html

segue o mantra!

23 novembro 2005

Quem? quando ? Cream???



Ahhh.. quer dizer que entre voces há gentes que nunca ouviu falar em Cream?? Como pode ? Que absurdo!

Nem me venha com esse papo furado de que você não era nascido ... Eu também não era nascido em 1500 , mas sei que o Pedro Alvares Cabral descobriu o Brasil. Todo mundo tem obrigação de saber o que é o Cream, ora bolas!

Mas se do Cream vc. nunca ouviu falar, do guitarrista da banda, um tal de Eric Clapton, é possível que você já tenha ouvido falar. Pois saiba que se Eric Clapton é esse deus da guitarra, é porque ele fez uma curta temporada de aprendizado com o baixista Jack Bruce e o baterista Ginger Baker( idolus maximus!).

Jack e Ginger são músicos de formação jazzística, do tempo em que músicos de jazz não tinham que usar terno nem serem reacionários. Trabalharam sempre nos dois contextos o da música pop e o do jazz. Saíram da mesma cena de outros expoentes do Jazz britânico , o guitarrista Jonh Mclaughlin (inventor a MahavishnuOrchestra ) e o baixista Dave Holland. Uma cena musical sem preconceitos, onde jazz ,blues ,rock e pop conviviam em harmonia.

O Cream é isso uma banda com dois pés na improvisação coletiva e mais dois na canção tradicional.. um acontecimento que resulta do encontro de três grandes músicos, excepcionais na ausência de preconceitos.

Vai baixar os discos e se informar... porque isso é que é música , não aquela porcaria que vc. ouve no rádio ..isso é que transgressão, não aquele travesti darkie... Isso é que é invenção , não essa pseudo-modernidade eletrônica.. Cream é tudo!

Alegria em creme



Se você tivesse me encontrado no último sábado à noite, com certeza ia pensar em me pedir um pouco do que eu havia tomado.

O meu óbvio estado de euforia não se devia a ingestão de nenhuma substância alucinógena.
A sensação de plenitude e alegria que me fez permanecer a noite toda com um sorriso embasbacado no rosto se devia a audição do novo DVD do Cream.

Sou fanático pelo Cream desde adolescente, quando soube que eles voltariam para fazer alguns shows no Royal Albert Hall, pensei em empenhar os meus filhos, vender meus pertences e rumar naquele instante para Londres. Uma semana depois a realidade das contas à pagar e a notícia (óbvia) de que tudo seria filmado , me fez trocar a minha peregrinação musical pela aquisição (finalmente) de um home theatre para aguardar o dia em que o DVD do Cream saísse.

Fiquei totalmente antenado com as notícias do show , vi as fotos ,ouvi os bootlegs.. e aguardei... O disco chegou as lojas semana passada, baixei na Internet, era maravilhoso. Na sexta de manhã corri para a Satisfaction, a loja do roqueiro quarentão.. e o DVD tinha acabado... Renato o proprietário e meu chapa, sentindo minha profunda ansiedade, garantiu que na segunda-feira conseguiria prá mim... Algumas horas depois o Renato me ligou dizendo que acabara de chegar uma nova leva de DVDs e que ele reservaria um prá mim.. Sábado de manhã corri na loja e peguei o disco.

O Cream durou dois anos e alguns meses entre 66 e 68 , ou seja o disco tinha que fazer jus a apenas trinta e sete anos(isso mesmo 37!) de expectativa.

A minha expressão sábado a noite dizia tudo..

02 novembro 2005

arcade marketing

já viram o clipe do Arcade Fire na MTV ?? Nem eu... nem ninguém!! Não tem....

30 outubro 2005

Paralamas no Canecão

Ando meio atrapalhado ainda por conta das mudanças de endereço e de foco profissional. Justificativas esfarrapadas para minha ausência de alguns dias.

Fazia um tempão que não via um show dos Paralamas. Fui ontem ver eles no Canecão. Gostei muito.

Achei o disco novo -"Hoje" - abaixo do meu padrão paralâmico de qualidade, mas o show colocou as coisas em perspectiva.

O show é bem focado no trabalho mais recente , com ênfase no repertório do disco novo, mas inévitavelmente o show é mais um relato da trajetória do que um retrato do presente.

O show me relembrou que a trajetória dos Paralamas não é uma sem incidentes de percurso( e aí só me refiro aos artísticos), como é natural para uma banda que está a mais de vinte anos na estrada. E que outros momentos de transição já ocorreram e eles os superaram com trabalho, união e talento.

Se esse momento não me parece ser um "pico" criativo da banda , no tal "longo caminho" deles há vales ,ravinas e coisas assim. Momentos onde se encontram novas formas de fazer coisas velhas e outros onde coisas novas se fazem das velhas formas. Momentos de absorver novidades e de reciclar o passado. E o mais interessante não é esse ou aquele momento mas a trajetória em si.

Sou ,desde sempre ,amigo pessoal dos três , ou melhor, dos quatro,( incluindo necessáriamente o Zé Fortes - o paralama que toca máquina de calcular) e um crítico que acompanha com severidade o trabalho deles desde o início.

Um contra-senso? Pode ser, mas é assim que eu sou... mais exigente dos próximos do que dos distantes. Como sou próximo deles,espero deles sempre mais do que dos outros.

Nesse contexto de altas expectativas o show de ontem atendeu a todas.

Só continuo achando (uma coisa que já acho a muito tempo) que o Herbert devia deixar de ser fominha e colocar um guitarrista base no show.. ia facilitar a vida dele e deixar ele se concentrar em cantar , coisa que cada dia ele faz melhor.

Aos queridos para-choques , o amor e a admiração de um companheiro de viagem.

24 outubro 2005

A profundidade do sucesso.

Não fui ao TIM, enviei um dos nossos correspondentes ,mas não fui. Não estava no clima antes para comprar ingresso , nem para batalhar um em cima da hora. Claro que gostaria de ter ido (em tese), mas temos que aprender a respeitar as nossas próprias indiosincrasias sentimentais.

Vi ontem o Elvis Costello ao vivo na MTV, ( que bom negócio fez a TIM trocando a cobertura totalmente inepta da Globo do ano passado pela cobertura da MTV desse ano) e o encantamento da platéia era óbvio até pela TV.

E.C. nunca fez sucesso no Brasil. Suas músicas nunca tocaram no rádio ( a única vez que Elvis passou rápidamente pelos nossos ares foi com sua versão de "She" do Azanavour- que ele desnecessártiamente tocou no show..) mas apesar dessa falta de exposição ele formou um público fanático.

O que me leva a uma observação que eu fiz a algum tempo sobre a natureza do sucesso.

O sucesso tem extensão e profundidade. Há sucessos como o dos Beatles ou de Roberto Carlos que tem ambas as coisas , como é profundo resiste ao tempo e deixa marcas ( no inconsciente do público) , como é extenso é uma referência universal , algo que todo mundo conhece.

O sucesso das Spice Girls, por exemplo é extenso e raso ... todo mundo ouviu falar , mas sua música desapareceu do mapa.. e em breve só vai ser lembrado como um peça de "kitch" dos anos 90.

O sucesso de Elvis Costello é um sucesso profundo e pouco extenso, ou seja, no mediano público que ele atingiu , ele deixou profundas marcas.

O meu exemplo favorito de sucesso restrito e profundo é o filme Solaris do russo Andrei Tarkovsky. O filme foi pouquíssimamente exibido e uma parte substancial do público que o assitia o achava insuportávelmente lento e arrastado ( como eu) ,mas os que realmente apreciaram o filme foram tão profundamente atingidos pela experiência, que o filme se tornouum clássico inquestionável. A ponto de Hollywwod tentar fazer uma versão.

O sucesso é um bicho mais complexo do que as listas de mais vendidos querem nos fazer supor.

22 outubro 2005

O meu candidato para Nick Drake do século XXI.


Tomei conhecimento de Nick Drake , no final dos anos 80 , quando comprei num sebo um LP dele . O disco se chamava "Bryter Lyter" e me interessei por ele porque era do selo Island produzido por um dos meus produtores favoritos Joe Boyd e com meu ídolo Richard Thompson na guitarra .


Adorei o disco desde a primeira audição, ele tinha um clima folkish (usual nas produções de Boyd) , totalmente intimista e excepcionais arranjos de cordas para uma pequena formação (quarteto e sexteto) - coisa que sempre me interessa.

As composições de Drake se destacavam por uma concepção harmônica arrojada algo jazzística ,que em nada pareciam com o folk inglês , no qual ele estava categoriozado.

O disco realmente era ótimo, mas de alguma forma não me surpreendeu que eu nunca tivesse ouvido falar de Nick Drake , já que afinal as produções de Joe Boyd para Richard Thompson ( a minha razão de comprar o disco) também nunca tinham encontrado o grande público que eu achava merecido.

Um "mega-revival" de Nick Drake começou em meados dos anos 90 , quando usaram uma canção do seu disco "Pink Moon" num anûncio da Volkswagen no Reino Unido. Por conta dessa música, milhares descobriram esse artista que tinha uma história trágica ( ele se suicidou em 1974) .O que era um nome obscuro até alguns poucos anos antes, se transformou num sucesso mundial, um típico caso de - artista antes do seu tempo.

O sucesso "cult" de Nick Drake e as influências que ele produziu gerou uma série de candidatos ao "trono" de nick drake do Século XXI.

Muitos são só clones,mal disfarçados, mas dois se destacam nessa disputa , ambos americanos, Devendra Banhart e Sufjan Stevens.

Após uma comparação de um disco de cada um aposto en Sufjan .

O "Cripple Crow" de Devendra Banhart também é muito bom, mas acho que menos semelhante com o trabalho de Drake, exatamente na ousadia harmônica que sobra no "Illinoise" de Sufjan Stevens que eu recomendo entusiasticamente .

21 outubro 2005

Atrás do second line vai até quem já morreu.

Dia complicado emocionalmente esse de hoje.

É o dia da missa de sétimo dia da minha querida irmã Cristina. Seria bom que tivéssemos o civilizadíssimo costume de comemorar festivamente a morte ,como se faz em Nova Orleans e em tantas outras culturas da Tailândia a Nigéria.

Seria ótimo dançar a memória de Cristina atrás de uma "brass band" . Se eu fosse bilionário, teria contratado a "Dirty Dozen" ( estejam lá onde eles estiverem nessa confusão pós -Katrina) para animar essa celebraçao da vida minha amada e saudosa irmã. Acho que ela teria aprovado.

Taí , mais uma das tais mil-utilidades da tal música popular.

20 outubro 2005

O Ataque dos Cantores/Compositores Relaxantes

K.T. Tunstal - Eye to the Telescope /James Blunt -Back to Bedlam /Laura Veirs- Troubled by Fire

Musica popular é uma espécie de " arte-bombril" - tem mil e uma utilidades. Uma dessas muitas serventias é a de barômetro do inconsciente coletivo. O poeta/maluquete Ezra Pound dizia que os artistas são "antenas da raça" , no caso da música pop a recepção do sinal é forte e constante.

O sucesso inesperado de um artista ou estilo musical é sempre um reflexo de uma mudança no estado de espírito dominante numa certa época e lugar. As paradas de sucesso são, para quem sabe lê-las ,um elemento precioso de interpretação dos movimentos sociais.

A explosão de Norah Jones , alguns anos atrás , foi um desses fenômenos. Inexplicável pelo investimento em marketing ou pelo conteúdo musical , ocorreu simplesmente porque ela cantava alguma coisa que muita gente queria ouvir num certo momento.

Não estou fazendo pouco do talento de Norah, o que seria um absurdo até do ponto de vista de DNA (ela é filha do maestro Ravi Shankar) ,mas simplesmente afirmando que a sintonia que ela alcançou com multidões pelo mundo no biênio 2002/2003 , tem muito mais a ver com sentido de oportunidade do que com o seu talento musical em si.

O sucesso de Norah revelou para os oráculos de paradas de sucesso (uma variante moderna da leitura do jogo de búzios e das cartas de tarô) um apetite do público para um tipo de canção relaxante e reflexiva , intimista e melancólica, que era praticada pelos cantores/ compositores dos anos 70, ex: James Taylor/Cat Stevens/ Carole King..etc..

Por conta de atender essa demanda por música agridoce para relaxar, artistas que talvez tivessem tocando em espeluncas pelo hemisfério Norte , súbitamente tem uma oportunidade de alcançar uma audiência planetária. Para nós ouvintes ,essa repentina multiplicação de cantores/compositores que cantam macio é um tanto exagerada,mas não desagradável, especialmente se considerarmos que o dinheiro que é usado para promovê-los seria usado em meninas esgoelantes que pensam que são Aretha Franklin ou garotos fantasiados de punks que pensam que são Kurt Cobain.

Assim nos resta apreciar estes três artistas , bem diferentes entre si , mas que tem em comum esse "ethos" não-agressivo e melódico instaurado por Norah Jones.

James Blunt é americano , canta num tenor bem agudo e tem um certo progressivismo( seilá porque suas melodias me lembram Genesis ou algo assim..) nas suas baladas centradas em piano. Já é sucesso no Reino Unido , onde todos os artistas americanos de algum valor parecem ter que se iniciar hoje em dia. É meio duro de chegar além da sexta ou sétima faixa , já que vai se tornando algo repetitivo, mas aí é o meu gosto.

K.T. Tunstall é uma garota escocesa, descobri a moça faz alguns meses no melhor programa musical de TV do mundo o "Tataratata" da TV5 francesa. Ela se apresentou só com seu violão e me deixou uma boa impressão, mas não chegou a gerar grandes expectativas. O disco é bem melhor do que aquela apresentação ao vivo fazia supor. É mais variado em ritmos do que o de Blunt e ela se demonstra uma cantora de muitos recursos e uma compositora inspirada. Promete a menina. Parece que já está numa novela e toca no rádio pelaí...

Laura Veirs é a mais indie dos três, mas está despontando. Me lembra muito a minha adorada Gillian Welch ( sobre ela mando um post completo dia desses..) nas influências bluegrass.
É menos inspirada como melodista mas tem uma adorável fragilidade intimista no seu disco.


Se voce está antenado com o clima chuvoso e cinza desse fim de primavera dáunloude os três que vale a pena.

promessas ...promessas.....

well,well,well, parece que esse blog morreu, mas aí tudo mudou.. eu mudei de endereço , e com a nova paisagem veio a disposição de fazer algumas proposições de ano novo, sem ano novo.

então vamos lá: Eu prometo:

- Fazer regime até perder 10 kilos
- Não comprar revistas e livros que eu não vou ter tempo de ler
- Escrever diariamente nesse blogo sobre os discos que estou ouvindo.

Como eu costumo dizer - promessa é duvida.