17 dezembro 2005

O top ten do meu carro em 2005

Faz alguns anos que observei que o meu lugar favorito de ouvir música era o carro. Imaginei que esse seria um desvio de comportamento pessoal, mas descobri que isso acontecia com muita gente. O meu carro que carrega uma família com gostos musicais díspares , passou a ter um top ten particular, resultado de um mmc dos gostos dos ocupantes. Francisco meu filho mais moço de quatro anos´, que é o maior frequentador do carro tem um papel decisivo nop top ten desse ano.. Vamos lá :

1- Amassokoul / Tinariwen
2- Out of Exile / Audioslave
3- Chaos and Creation... /Paul McCartney
4- Matador / Mickey D
5- Tournée/ Paolo Conte
6- Illinoise - Sufjan Stevens
7- Joaquin Sabina - 19 dias e 500 noches
8- Jorge Ben - Tábua de Esmeralda
9- Amadou & Mariam -Dimanche à Bamako
10- Franz Ferdinand - os dois discos
11- K.T. Tunstall - Eye to the Telescope

16 dezembro 2005

Porque amo o meu MP3 (1) - O condicionante linguístico


O ano era 1985, a fita cassete se chamava "Viaggi Organizzati", o artista era Lucio Dalla. Meus pais me trouxeram de uma viagem à Itália, como costumavam trazer música de todos os muitos cantos do planeta para onde viajavam.

O disco era espetacular. Não espetacular por diferente, exótico e curioso, como eram tantos discos de tantos lugares que meus pais tinham me trazido. Era um disco exemplar de moderna música "pop", especialmente pelo uso desasombrado, inteligente e particular que a produção fazia das novas folias digitais que nos fascinavam naquela altura; sintetizadores , baterias eletrônicas e samplers. Essa estética moderna sem deslumbramentos servia a canções de melodias genialmente italianas e letras que revelavam novas qualidades a cada nova ida ao dicionário (a canção como senha para descobrir um novo idioma é uma dos grandes prazeres que ela nos oferece).

Descobri que Lucio Dalla já era meu conhecido sem eu saber. Era ele o autor do super-hit "Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones" versionado pelos Incríveis. Ainda no fim dos anos 80 , a música de abertura do "Viaggi Organizzati" - "Tutta la Vita" , viraria um novo hit para Dalla no Brasil numa tenebrosa versão entitulada "Tô -P- da vida" da banda-armação Dominó, que não tinha a mais remota semelhança de sentido com a canção original.

Lucio Dalla já era aquela altura "um grande" da música italiana, tinha lá a estatura que um Caetano ou um Chico Buarque tinham aqui. A Itália não é propriamente um país obscuro do terceiro mundo: Como então, me perguntava, um cara como eu que consome toda informação musical ao seu alcance, precisou da intervenção da providência divina, através de uma recomendação aos meus pais, para descobrir um artista desse calibre ?

A resposta era óbvia , nós vivíamos (vivemos) numa dieta musical imposta por corporações multinacionais anglo-americanas, sendo assim toda a música popular que não é cantada em inglês tem enorme dificuldade de achar um público para além da sua língua/ cultura/pátria de origem. Claro que essa afirmação simplista, com ares de teoria conspiratória, esconde muitas verdades históricas sobre a formação do mercado mundial da música , sobre os processos econômicos e os mercados internacionais. Mas eu estava precisando de um bode expiatório e as corporações multinacionais estão aí é para isso mesmo.

A descoberta mais importante era que havia um mundo de música pop interessante a ser explorado, que não iria chegar a mim pelos meios normais pelos quais eu costumava tomar conhecimento de música. Essa consciência sobre as limitações da dieta musical que me era ofertada pelos veículos de divulgação serviu mais para colecionar nomes do que para ouvir música. A maioria dos artistas a quem se fazia referência não tinha discos disponíveis nas lojas. Portanto , fora um ou outro que escapava milagrosamente ao cerco da anglofonia, meus ouvidos continuavam reféns dos vagares da indústria do disco e suas vilanescas corporações cada vez mais multinacionalmente monoglotas.

Tudo mudou com os Napsters/Kazaas/E-mules da vida. Numa virada de página do grande livro por escrever da Internet, toda a música popular do mundo estava à disposição dos meus dedos e ouvidos. As recomendações, referências e leituras do passado foram rapidamente transformando-se em música para ser ouvida. Essa infinitude de possibilidades leva inicialmente a uma certa estupefação, mas com o passar dos meses vão ser revelando artistas e discos que abrem janelas para novas culturas.

O espanhol Joaquin Sabina , o italiano Paolo Conte a banda francesa Mickey 3D , são artistas que enriqueceram recentemente o meu universo musical, graças a disponibilidade da sua música na Internet. Como eles outras tantos estão aí para ser descobertos.

10 dezembro 2005

o melhor disco de rock do ano

Numa dessas navegações associativas sem destino que realizo de manhã , à partir dos emails que recebo diariamente (NYTimes/The Independent/AJCulture/blueBus/BBC/nominimo) caí na lista de indicados para o Grammy que foi divulgada hoje.

Gosto do Grammy e não gosto do Grammy.

Gosto porque quando o assisti de corpo presente pude sentir um clima bacana. Aquela coisa de ficar na fila do cachorro-quente atrás do Jeff Beck, trocar figurinhas com Roy Haynes esperando um taxi.. ou seja , a interação do mundo da música americana tudoaomesmotempoagora,é uma experiência super-bacana .

Não gosto do Grammy quando ele quer pretender ser produto de exportação. Acho, desde o marco zero, o Grammy Latino uma ridícula manifestção de subserviência cultural e o espaço que a grande imprensa brazuca dedica aos brasileiros indicados ao prêmio americano um triste sinal de colonialismo mental .

Digo isso tudo para justificar o tempo que perdi lendo os indicados do Grammy e constatando o absurdo que é ausência dos dois melhores de disco de rock americanos do ano: "Mesmerize/Hipnotize" do System of a Down e o "Out of Exile " do Audioslave.

Ambos estão apenas indicados em categorias menores que garantem a ausência deles da transmissão de TV. Uma óbvia e milimetrada medida para evitar os discursos anti-guerra do Iraque que ambas as bandas iriam promover se o espaço televisivo estivesse disponível.

O fiapo de credibilidade que o Grammy ainda poderia ter, foi definitivamente jogado no lixo.

07 dezembro 2005

Big & Rich

O melhor disco de rock'n'roll do ano é " Comin' to your city" do duo country Big & Rich.
Explico:
Rock'n'roll é uma coisa diferente de rock. O duo eletrõnico alemão Kraftwerk está inscrito no universo do rock, nada menos rock'n'roll do que os robôs de Dusserldorf.
Rock'n'roll é simples , despretencioso e divertido, como Chuck Berry , Little Richard e James Brown, música de festa. Como já disseram os Beach Boys, com enorme poder de síntese, FUN,FUN,FUN.. Nessa tradição de música para sacudir o esqueleto, Grande e Rico estão bem na fita. daunloude e tire suas próprias conclusões.

01 dezembro 2005

dieta -1


Rápidamnete um resumo do que anda frequentando os meus ouvidos.

Sufjan Stevens - Illinoise - Esse já está quase na boca do povo.
Mais um cantor/compositor sensível , esse meio de década 00 está com um incrível sabor de meados de 70. Sufjan se destaca nesse bloco de compositores que cantam baixinho e tocam violão pelas orquestrações originais e o uso intensivo de cordas, metais e coros. Há algo de Brian Wilson no destemor em que Stevens se lança no emprego de todas as cores musicais que dispõe. Viciante.


Jefferson Airplane = Surrealistic Pillow - Os vagares do negócio muitas vezes nos afastam de descobertas preciosas. O Jefferson Airplane não desfruta de um grande prestígio internacional nesse momento da história , são raras as citações a banda, é raro ouvir sua música mesmo os sucessos.

Em parte esse esquecimento se deve a eles próprios, que esculhambaram o legado de uma grande banda numa segunda encarnação (Jefferson Starship) que pegou uma rota rumo a breguice e nunca mais voltou.

Mais que a própria biografia , o que faz que a boa fase "Airplane" permaneça obscura é o fato dos primeiros ( e melhores ) discos da banda terem sido gravados para uma gravadora que fechou e estarem perdidos em algum rolo judicial interminável.

É raríssimo encontrar os discos e mesmo as coletâneas do Jefferson Airplane são figurinhas difíceis. É uma injustiça que a santa Internet repara.

Conhecia os hits do Airplane"White Rabbit", "Somebody to Love" , tive ou ainda tenho uma coletânea e me dava por satisfeito. Alguns anos atrás , sabe-se lá por indicação de quem, comprei o disco "Oar" um solo do Alexander "Skip" Spence , primeiro baterista da banda , clássico da psicodelia bad trip . Me apaixonei pelo disco e essa paixão me deu a curiosidade de ouvir os discos originais do Airplane, onde ele tocava.

Baixei os quatro primeiros - Surrealistic Pillow (1967) ,Crown of Creation (1968), Volunteers (1969) e Blows against the empire (1970) e descobri uma banda mais próxima do Buffalo Springfield do que do Grateful Dead, só para falar da cena flowe power, Califórnia, final dos sessenta. É psicodélico com certeza, mas não daquele jeito doidão bicho-grilo do Dead. De alguma forma o Airplane é a banda que mais encarnou o espírito contestador revolucionário de 68 nos Estados Unidos.

Portanto usem os seus Kazaas,E-donkeys e quetais .

P.S. - Tenho que fazer justiça e me lembrar que o Maurício Valladares sempre me recomendou o Airplane..