21 junho 2006

Letra e música

Letra e Música

A canção popular é uma colisão entre música e poesia.
A poesia que comenta os tempos, a música que induz a dança.
A oração profana para ser repetida mil vezes,a música que relaxa os sentidos. O hai-kai que intriga, a melodia que gruda no inconsciente.

Sempre que alguém quer reduzir a canção popular a apenas um dos seus elementos não explica, confunde.
A canção popular é por definição a arte da palavra cantada, portanto letra de música não é poesia e qualquer arranjo de canção popular não é exatamente Música (com “M” maiúsculo).
Isso não quer dizer que a canção seja uma arte menor, muito pelo contrário. Afirmar a duplicidade da canção apenas ressalta que ela tem que ser criticada e observada como criação artística independente que é.

A canção popular como o cinema é “arte vira-lata” , de sangue misturado, cria da mestiçagem de outras artes. Artes que se moldaram no século XX . Artes que nascem de engenhos tecnológicos (cinematógrafo e fonógrafo), que ganham terreno pelo mundo, que permitem expressões novas e únicas.

Não existem artistas consagrados na canção popular que não tenham qualidades poéticas e musicais.
As letras de um Bob Dylan ou de um Caetano Velloso naturalmente ofuscam a parte estritamente musical das suas composições, mas isso não quer dizer que elas não existam.
Tanto em Dylan como em Caetano o ouvinte atento vai encontrar uma riqueza de soluções melódicas e uma constante re-invenção musical, que dão ao conjunto das suas obras o valor que nós atribuímos a elas.

Como arte da palavra cantada a canção convive e se inspira na poesia e na música pura. Frequentemente os compositores de canções também avançam pelo terreno das outras duas artes. Astor Piazzola e Duke Ellington , são criadores que escaparam do terreno da canção para a música pura como Chico Buarque e Leonard Cohen eventualmente escorregam para a literatura.

19 janeiro 2006

O meio a mensagem , o som e a música.

No espaço de uma semana li três artigos em lugares muito diferentes que abordavam o mesmo problema , a qualidade do som como parte fundamental do processo de experiência da música. Me senti estimulado a lançar esse assunto , no qual penso faz muito tempo, para a reflexão dos meus não-leitores.

Para nós que vivemos nesse tempo de assalto constante aos sentidos e de ouvidos superestimulados é necessário lembrar que a música não nasceu gravada.
Sim meus amigos da geração ipod, já existiu um tempo num passado não tão remoto em que para ouvir músca era preciso que alguém a tocasse.

Nesses tempos imemoriais em que a música era tocada por músicos de corpo presente, a questão era a qualidade do músico, não a qualidade do som. Felizmente isso é passado. Hoje em dia uma grande parte da música que nós ouvimos é criada como gravação e a performance ao vivo muitas vezes se torna uma operação de cachorro correndo atrás do rabo,com os músicos e técnicos tentando reproduzir ao vivo o que foi criado como gravação.

Mas voltando aos artigos que fiz menção no início . O primeiro foi na revista "Mix" , a bíblia do aúdio profissional, um painel com alguns engenheiros de masterização reclamando da qualidade dos equipamentos de áudio em que normalmente se ouve música hoje. O segundo e o terceiro eram artigos um no San Francisco Chronicle e o outro no site do Pete Townshend ( guitarrista do The Who) falando sobre o impacto dos headphones como principal meio de experiência musical.

O artigo de Townshend era um alerta , de alguém vitimado pela exposição a música alta em headphones. O guitarrista do Who , além de uma séria perda de audição, sofre de uma condição chamada tinitus , uma irritação no nervo auditivo, que se manifesta como um zumbido aguda permanente , cada vez que a pessoa é exposta a sons de alto volume.

No momento em que os "home theatres" se proliferam , a questão da qualidade da reprodução deveria estar na frente de todas as outras para a indústria da música. O DVD oferece oportunidade de qualidades de som jamis experimentadas antes, mas tudo isso passsa batido, por uma indústria que não consegue ver além dos resultados do próximo trimestre.

Volto ao assunto..