30 outubro 2005

Paralamas no Canecão

Ando meio atrapalhado ainda por conta das mudanças de endereço e de foco profissional. Justificativas esfarrapadas para minha ausência de alguns dias.

Fazia um tempão que não via um show dos Paralamas. Fui ontem ver eles no Canecão. Gostei muito.

Achei o disco novo -"Hoje" - abaixo do meu padrão paralâmico de qualidade, mas o show colocou as coisas em perspectiva.

O show é bem focado no trabalho mais recente , com ênfase no repertório do disco novo, mas inévitavelmente o show é mais um relato da trajetória do que um retrato do presente.

O show me relembrou que a trajetória dos Paralamas não é uma sem incidentes de percurso( e aí só me refiro aos artísticos), como é natural para uma banda que está a mais de vinte anos na estrada. E que outros momentos de transição já ocorreram e eles os superaram com trabalho, união e talento.

Se esse momento não me parece ser um "pico" criativo da banda , no tal "longo caminho" deles há vales ,ravinas e coisas assim. Momentos onde se encontram novas formas de fazer coisas velhas e outros onde coisas novas se fazem das velhas formas. Momentos de absorver novidades e de reciclar o passado. E o mais interessante não é esse ou aquele momento mas a trajetória em si.

Sou ,desde sempre ,amigo pessoal dos três , ou melhor, dos quatro,( incluindo necessáriamente o Zé Fortes - o paralama que toca máquina de calcular) e um crítico que acompanha com severidade o trabalho deles desde o início.

Um contra-senso? Pode ser, mas é assim que eu sou... mais exigente dos próximos do que dos distantes. Como sou próximo deles,espero deles sempre mais do que dos outros.

Nesse contexto de altas expectativas o show de ontem atendeu a todas.

Só continuo achando (uma coisa que já acho a muito tempo) que o Herbert devia deixar de ser fominha e colocar um guitarrista base no show.. ia facilitar a vida dele e deixar ele se concentrar em cantar , coisa que cada dia ele faz melhor.

Aos queridos para-choques , o amor e a admiração de um companheiro de viagem.

24 outubro 2005

A profundidade do sucesso.

Não fui ao TIM, enviei um dos nossos correspondentes ,mas não fui. Não estava no clima antes para comprar ingresso , nem para batalhar um em cima da hora. Claro que gostaria de ter ido (em tese), mas temos que aprender a respeitar as nossas próprias indiosincrasias sentimentais.

Vi ontem o Elvis Costello ao vivo na MTV, ( que bom negócio fez a TIM trocando a cobertura totalmente inepta da Globo do ano passado pela cobertura da MTV desse ano) e o encantamento da platéia era óbvio até pela TV.

E.C. nunca fez sucesso no Brasil. Suas músicas nunca tocaram no rádio ( a única vez que Elvis passou rápidamente pelos nossos ares foi com sua versão de "She" do Azanavour- que ele desnecessártiamente tocou no show..) mas apesar dessa falta de exposição ele formou um público fanático.

O que me leva a uma observação que eu fiz a algum tempo sobre a natureza do sucesso.

O sucesso tem extensão e profundidade. Há sucessos como o dos Beatles ou de Roberto Carlos que tem ambas as coisas , como é profundo resiste ao tempo e deixa marcas ( no inconsciente do público) , como é extenso é uma referência universal , algo que todo mundo conhece.

O sucesso das Spice Girls, por exemplo é extenso e raso ... todo mundo ouviu falar , mas sua música desapareceu do mapa.. e em breve só vai ser lembrado como um peça de "kitch" dos anos 90.

O sucesso de Elvis Costello é um sucesso profundo e pouco extenso, ou seja, no mediano público que ele atingiu , ele deixou profundas marcas.

O meu exemplo favorito de sucesso restrito e profundo é o filme Solaris do russo Andrei Tarkovsky. O filme foi pouquíssimamente exibido e uma parte substancial do público que o assitia o achava insuportávelmente lento e arrastado ( como eu) ,mas os que realmente apreciaram o filme foram tão profundamente atingidos pela experiência, que o filme se tornouum clássico inquestionável. A ponto de Hollywwod tentar fazer uma versão.

O sucesso é um bicho mais complexo do que as listas de mais vendidos querem nos fazer supor.

22 outubro 2005

O meu candidato para Nick Drake do século XXI.


Tomei conhecimento de Nick Drake , no final dos anos 80 , quando comprei num sebo um LP dele . O disco se chamava "Bryter Lyter" e me interessei por ele porque era do selo Island produzido por um dos meus produtores favoritos Joe Boyd e com meu ídolo Richard Thompson na guitarra .


Adorei o disco desde a primeira audição, ele tinha um clima folkish (usual nas produções de Boyd) , totalmente intimista e excepcionais arranjos de cordas para uma pequena formação (quarteto e sexteto) - coisa que sempre me interessa.

As composições de Drake se destacavam por uma concepção harmônica arrojada algo jazzística ,que em nada pareciam com o folk inglês , no qual ele estava categoriozado.

O disco realmente era ótimo, mas de alguma forma não me surpreendeu que eu nunca tivesse ouvido falar de Nick Drake , já que afinal as produções de Joe Boyd para Richard Thompson ( a minha razão de comprar o disco) também nunca tinham encontrado o grande público que eu achava merecido.

Um "mega-revival" de Nick Drake começou em meados dos anos 90 , quando usaram uma canção do seu disco "Pink Moon" num anûncio da Volkswagen no Reino Unido. Por conta dessa música, milhares descobriram esse artista que tinha uma história trágica ( ele se suicidou em 1974) .O que era um nome obscuro até alguns poucos anos antes, se transformou num sucesso mundial, um típico caso de - artista antes do seu tempo.

O sucesso "cult" de Nick Drake e as influências que ele produziu gerou uma série de candidatos ao "trono" de nick drake do Século XXI.

Muitos são só clones,mal disfarçados, mas dois se destacam nessa disputa , ambos americanos, Devendra Banhart e Sufjan Stevens.

Após uma comparação de um disco de cada um aposto en Sufjan .

O "Cripple Crow" de Devendra Banhart também é muito bom, mas acho que menos semelhante com o trabalho de Drake, exatamente na ousadia harmônica que sobra no "Illinoise" de Sufjan Stevens que eu recomendo entusiasticamente .

21 outubro 2005

Atrás do second line vai até quem já morreu.

Dia complicado emocionalmente esse de hoje.

É o dia da missa de sétimo dia da minha querida irmã Cristina. Seria bom que tivéssemos o civilizadíssimo costume de comemorar festivamente a morte ,como se faz em Nova Orleans e em tantas outras culturas da Tailândia a Nigéria.

Seria ótimo dançar a memória de Cristina atrás de uma "brass band" . Se eu fosse bilionário, teria contratado a "Dirty Dozen" ( estejam lá onde eles estiverem nessa confusão pós -Katrina) para animar essa celebraçao da vida minha amada e saudosa irmã. Acho que ela teria aprovado.

Taí , mais uma das tais mil-utilidades da tal música popular.

20 outubro 2005

O Ataque dos Cantores/Compositores Relaxantes

K.T. Tunstal - Eye to the Telescope /James Blunt -Back to Bedlam /Laura Veirs- Troubled by Fire

Musica popular é uma espécie de " arte-bombril" - tem mil e uma utilidades. Uma dessas muitas serventias é a de barômetro do inconsciente coletivo. O poeta/maluquete Ezra Pound dizia que os artistas são "antenas da raça" , no caso da música pop a recepção do sinal é forte e constante.

O sucesso inesperado de um artista ou estilo musical é sempre um reflexo de uma mudança no estado de espírito dominante numa certa época e lugar. As paradas de sucesso são, para quem sabe lê-las ,um elemento precioso de interpretação dos movimentos sociais.

A explosão de Norah Jones , alguns anos atrás , foi um desses fenômenos. Inexplicável pelo investimento em marketing ou pelo conteúdo musical , ocorreu simplesmente porque ela cantava alguma coisa que muita gente queria ouvir num certo momento.

Não estou fazendo pouco do talento de Norah, o que seria um absurdo até do ponto de vista de DNA (ela é filha do maestro Ravi Shankar) ,mas simplesmente afirmando que a sintonia que ela alcançou com multidões pelo mundo no biênio 2002/2003 , tem muito mais a ver com sentido de oportunidade do que com o seu talento musical em si.

O sucesso de Norah revelou para os oráculos de paradas de sucesso (uma variante moderna da leitura do jogo de búzios e das cartas de tarô) um apetite do público para um tipo de canção relaxante e reflexiva , intimista e melancólica, que era praticada pelos cantores/ compositores dos anos 70, ex: James Taylor/Cat Stevens/ Carole King..etc..

Por conta de atender essa demanda por música agridoce para relaxar, artistas que talvez tivessem tocando em espeluncas pelo hemisfério Norte , súbitamente tem uma oportunidade de alcançar uma audiência planetária. Para nós ouvintes ,essa repentina multiplicação de cantores/compositores que cantam macio é um tanto exagerada,mas não desagradável, especialmente se considerarmos que o dinheiro que é usado para promovê-los seria usado em meninas esgoelantes que pensam que são Aretha Franklin ou garotos fantasiados de punks que pensam que são Kurt Cobain.

Assim nos resta apreciar estes três artistas , bem diferentes entre si , mas que tem em comum esse "ethos" não-agressivo e melódico instaurado por Norah Jones.

James Blunt é americano , canta num tenor bem agudo e tem um certo progressivismo( seilá porque suas melodias me lembram Genesis ou algo assim..) nas suas baladas centradas em piano. Já é sucesso no Reino Unido , onde todos os artistas americanos de algum valor parecem ter que se iniciar hoje em dia. É meio duro de chegar além da sexta ou sétima faixa , já que vai se tornando algo repetitivo, mas aí é o meu gosto.

K.T. Tunstall é uma garota escocesa, descobri a moça faz alguns meses no melhor programa musical de TV do mundo o "Tataratata" da TV5 francesa. Ela se apresentou só com seu violão e me deixou uma boa impressão, mas não chegou a gerar grandes expectativas. O disco é bem melhor do que aquela apresentação ao vivo fazia supor. É mais variado em ritmos do que o de Blunt e ela se demonstra uma cantora de muitos recursos e uma compositora inspirada. Promete a menina. Parece que já está numa novela e toca no rádio pelaí...

Laura Veirs é a mais indie dos três, mas está despontando. Me lembra muito a minha adorada Gillian Welch ( sobre ela mando um post completo dia desses..) nas influências bluegrass.
É menos inspirada como melodista mas tem uma adorável fragilidade intimista no seu disco.


Se voce está antenado com o clima chuvoso e cinza desse fim de primavera dáunloude os três que vale a pena.

promessas ...promessas.....

well,well,well, parece que esse blog morreu, mas aí tudo mudou.. eu mudei de endereço , e com a nova paisagem veio a disposição de fazer algumas proposições de ano novo, sem ano novo.

então vamos lá: Eu prometo:

- Fazer regime até perder 10 kilos
- Não comprar revistas e livros que eu não vou ter tempo de ler
- Escrever diariamente nesse blogo sobre os discos que estou ouvindo.

Como eu costumo dizer - promessa é duvida.