20 outubro 2005

O Ataque dos Cantores/Compositores Relaxantes

K.T. Tunstal - Eye to the Telescope /James Blunt -Back to Bedlam /Laura Veirs- Troubled by Fire

Musica popular é uma espécie de " arte-bombril" - tem mil e uma utilidades. Uma dessas muitas serventias é a de barômetro do inconsciente coletivo. O poeta/maluquete Ezra Pound dizia que os artistas são "antenas da raça" , no caso da música pop a recepção do sinal é forte e constante.

O sucesso inesperado de um artista ou estilo musical é sempre um reflexo de uma mudança no estado de espírito dominante numa certa época e lugar. As paradas de sucesso são, para quem sabe lê-las ,um elemento precioso de interpretação dos movimentos sociais.

A explosão de Norah Jones , alguns anos atrás , foi um desses fenômenos. Inexplicável pelo investimento em marketing ou pelo conteúdo musical , ocorreu simplesmente porque ela cantava alguma coisa que muita gente queria ouvir num certo momento.

Não estou fazendo pouco do talento de Norah, o que seria um absurdo até do ponto de vista de DNA (ela é filha do maestro Ravi Shankar) ,mas simplesmente afirmando que a sintonia que ela alcançou com multidões pelo mundo no biênio 2002/2003 , tem muito mais a ver com sentido de oportunidade do que com o seu talento musical em si.

O sucesso de Norah revelou para os oráculos de paradas de sucesso (uma variante moderna da leitura do jogo de búzios e das cartas de tarô) um apetite do público para um tipo de canção relaxante e reflexiva , intimista e melancólica, que era praticada pelos cantores/ compositores dos anos 70, ex: James Taylor/Cat Stevens/ Carole King..etc..

Por conta de atender essa demanda por música agridoce para relaxar, artistas que talvez tivessem tocando em espeluncas pelo hemisfério Norte , súbitamente tem uma oportunidade de alcançar uma audiência planetária. Para nós ouvintes ,essa repentina multiplicação de cantores/compositores que cantam macio é um tanto exagerada,mas não desagradável, especialmente se considerarmos que o dinheiro que é usado para promovê-los seria usado em meninas esgoelantes que pensam que são Aretha Franklin ou garotos fantasiados de punks que pensam que são Kurt Cobain.

Assim nos resta apreciar estes três artistas , bem diferentes entre si , mas que tem em comum esse "ethos" não-agressivo e melódico instaurado por Norah Jones.

James Blunt é americano , canta num tenor bem agudo e tem um certo progressivismo( seilá porque suas melodias me lembram Genesis ou algo assim..) nas suas baladas centradas em piano. Já é sucesso no Reino Unido , onde todos os artistas americanos de algum valor parecem ter que se iniciar hoje em dia. É meio duro de chegar além da sexta ou sétima faixa , já que vai se tornando algo repetitivo, mas aí é o meu gosto.

K.T. Tunstall é uma garota escocesa, descobri a moça faz alguns meses no melhor programa musical de TV do mundo o "Tataratata" da TV5 francesa. Ela se apresentou só com seu violão e me deixou uma boa impressão, mas não chegou a gerar grandes expectativas. O disco é bem melhor do que aquela apresentação ao vivo fazia supor. É mais variado em ritmos do que o de Blunt e ela se demonstra uma cantora de muitos recursos e uma compositora inspirada. Promete a menina. Parece que já está numa novela e toca no rádio pelaí...

Laura Veirs é a mais indie dos três, mas está despontando. Me lembra muito a minha adorada Gillian Welch ( sobre ela mando um post completo dia desses..) nas influências bluegrass.
É menos inspirada como melodista mas tem uma adorável fragilidade intimista no seu disco.


Se voce está antenado com o clima chuvoso e cinza desse fim de primavera dáunloude os três que vale a pena.

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