Ter encontros humanos extraordinários é uma das melhores coisas que a música proporciona.
Por conta da paixão dividida pela música , pude(posso) me tornar amigo instantaneamente de pessoas das mais variadas histórias, etnias , línguas e aparências. Poucas coisas na vida me fazem mais feliz do que encontrar gente apaixonada por música.
Semana passada perdi um desses amigos. Conheci Ramiro Mussoto , nos corredores dos estúdios da vida. Estava produzindo um disco e precisava de um pandeiro. O engenheiro de som me sugeriu que pedisse ao percussionista que gravava no estúdio do lado , um cara alto e simpático com sotaque hispânico, com quem já tinha trocado algumas palavras. Pedir um instrumento por empréstimo para um músico é na melhor das hipóteses como pedir uma escova de dente emprestada, na pior, como sugerir que o sujeito empreste a mulher.
A gravação não andava , o relógio corria então ,totalmente constrangido, fui ao estúdio do lado como se fosse para o cadafalso, me sujeitar ao não inevitável.
Ramiro, não apenas me ofereceu uma variedade de pandeiros para escolher , mas me apresentou uma pequena sala que, entre mil instrumentos, continha a maior coleção de berimbaus do planeta.
Com esse gesto de excepcional generosidade, Ramiro ganhou a minha gratidão eterna e eu ganhei um interlocutor inteligente e articulado para falar do assunto que eu mais gosto. Seguiram-se dezenas de encontros em estúdios e camarins, uma eventual correspondência por email e mais do que tudo uma indefinível comunhão espiritual, que faz com que pessoas que pouco se conhecem se tornem torcedores pelo sucesso do outro.
A música brasileira ficou mais pobre, sem o Ramiro aqui para apontar novas direções. Ele partiu , mas a música, sua paixão, está aí para sempre.
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